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Feb 27, 2021Liked by Tiago Belotte

Oi Tiago. Bom dia! Enquanto lia a sua carta lembrei do meu pai e avô lendo o jornal nos finais de semana. Eles sentavam em suas cadeiras preferidas. Cada em sua casa com o mesmo hábito. E nós sabíamos que aquele era o momento deles. Ninguém questionava. Um tempo onde a pressa caminhava diferente.

Sou do interior de São Paulo. Mudei para São Paulo quando fui fazer faculdade. Morei em chácara por quase 20 anos, mas nunca me senti intimidade pela cidade grande. E um dia andando de metrô parei e olhei no meu entorno. Todos apressados e eu estava seguindo o passos deles. Mas eu tinha tempo. Não precisava correr. Quando li seu texto lembrei de como sorri sozinha. Parei e fui no meu passo de quem sempre gostou de ver as histórias que surgiam bem perto de mim. A das pessoas que se reinventam todos os dias para dar conta de sua rotina em uma cidade grande como São Paulo.

Depois de trabalhar 15 anos como jornalista. Na época era Diretora de Jornalismo. Não morava mais em São Paulo. Já tinha voltado para o interior que perdia essas características da calma. Do andar devagar. E me dei conta que estava no ritmo apressado da vida. Seguindo o fluxo. Mas a pressa não cabia mais em mim. Pedi demissão. Vendi meu carro. Voltei a caminhar pelas ruas buscando as histórias que andavam por ali. Não há romance melhor do que olhar as pessoas caminhando na calçada. Muitos me chamaram de louca. Por deixar o cargo. O dinheiro. E escolher ficar em casa cuidando da minha filha de três anos e meio.

Hoje quando vi que tinha a sua carta no email liguei o computador. Sentei. Li. E resolvi responder. Deixei as crianças brincando pela sala (já não tenho mais apenas uma. Vieram gêmeos depois. A vida realmente virou uma loucura boa por aqui de um para três logo depois de me demitir).

Coloquei o seu play list. Eles já vieram aqui algumas vezes. Me abraçaram. E decidi que essa será a minha rotina. Ler sem culpa. Parar para responder com calma. A palavra me habita. Não preciso do cargo para entender que meu caminhar é com a escrita. Realizo projetos autorais. Abro mão de muitas coisas, mas ganho os abraços dos três para me lembrar que os sonhos acontecem na hora certa. Um dia por vez.

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Que carta mais necessária. Eu vivo pensando muito "aonde vamos chegar com essa pressa toda" e você colocou em palavras. Aliás, acho que muita gente compartilha desse sentimento. Cada vez mais, essa loucura do sistema me assusta. Eu aplaudo essas pessoas, como sua amiga e a Renata que aqui comentou. Obrigada pelo texto!

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Feb 28, 2021Liked by Tiago Belotte

Ai que lindo! Parece que eu estava sentada numa mesinha, numa casinha no campo te ouvindo falar! Perfeito

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Feb 27, 2021Liked by Tiago Belotte

Calmamente esperava pelo início das Cartas Tranquilas... fala ao coração. Vida longa, parabéns! <3

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Boa tarde, Tiago! Tudo bem com você?

Gostaria de dizer que a sua carta me encontrou perfeitamente bem. Ela me caiu como uma luva, na verdade. O que mais amo nas palavras é esse poder de identificação. Como pode, você, que nem me conhece, escrever coisas que se encaixem perfeitamente com o que eu acredito? Curioso e lindo demais. Bom, justo hoje após ler a sua carta, tomei uma decisão. A chegada de Março foi um divisor de águas para mim. Mês em que a licença médica que me afastou do trabalho, se encerrou. Um trabalho que me adoeceu, e que me fez desenvolver uma síndrome do pânico. Foram dias difíceis e muito escuros. Me perdi de mim mesma e tive muito medo de encarar a minha própria sombra. Tive que entregar o apartamento em que morava (e amava, por sinal). Mas sem sombra de dúvidas, o mais difícil foi ver as expressões de decepção de algumas pessoas da minha família, quando decidi que sairia deste emprego assim que a licença médica expirasse. Como pode, alguém ter coragem de abandonar um cargo importante em uma multinacional renomada? Ainda mais em período de pandemia... enquanto tantos queriam estar ali. Juro que não sei como consegui encontrar essa coragem. Mais difícil que sair, seria ficar. E tudo bem que me achem louca. Afinal, como você comentou na carta... quem sabe o que é melhor pra mim, se não eu mesma? O nosso corpo fala. Precisamos dar atenção à ele. Tem uma música do Cat Stevens que eu amo. Se chama “If you want to sing out, sing out.” E nela, ele comenta sobre as milhões de coisas que podemos ser. É fácil, diz ele. Se você quer ser livre, então seja. Se você quer dizer sim, diga sim. E se você quer dizer não, então diga não. Porque existem infinitos caminhos para escolher. Bom, que assim seja!

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Olá! Tudo bem?

Já percebeu que começar uma carta ou mensagem assim também é seguir um padrão? E que ninguém pergunta realmente querendo saber a verdade? Até porque ninguém quer lidar com a verdade do outro.

Mas nesse caso, de verdade fico feliz em saber que você se encontra bem ao escrever essa carta.. Eu estou indo, já estive melhor, já estive pior, mas vamo que vamo.

Me chamam de louca tantas vezes, me identifiquei demais com sua carta talvez por isso, por estar habituada a me identificarem desta forma. Me chamam de louca quando falo com estranhos na rua, só dando um bom dia, ou comentando algo que vejo que está acontecendo com eles. Me chamam de louca quando acordo sozinha as 4:30 ou 5 horas da manhã, mas não porque dizem que o cosmos vai me ajudar, acordo cedo porque é a hora que me sinto melhor e mais produtiva, mas mesmo assim me chamam de louca. Quando escrevo algum devaneio nas minhas redes sociais, quando corro mesmo com alguma dor no joelho. Já me chamaram quando larguei meu emprego também, assim como sua amiga, pelo que vejo, não há loucura que liberta mais do que essa. Sabe o que é mais engraçado? Me chamam de louca toda vez que estou me sentindo melhor, quando me sinto mais livre, quando meu coração grita mais alto. Será que sou louca ou será que eles que não sabem lidar com seus próprios gritos internos e não querem ver e ouvir os meus?

Adoro ser louca! Que venham muitas mais loucuras para nós!

Fique bem, abraço grande, Letícia

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Nestes tempos de grande incerteza é ainda mais difícil cultivar um ritmo próprio. Somos interrompidos e bombardeados com informações a todo instante. Nesse sentido, a reflexão proposta pela tua carta com certeza fez eu me sentir mais tranquilo (mesmo que por um breve momento), e menos solitário na caminhada. Obrigado por compartilhar Tiago, um abração e boa semana pra ti! Francisco.

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